JANTAR DE IDIOTAS E SESSÃO DE CÂMARA
Gosto, de vez em quando, de assistir a uma peça de teatro. Lembro-me recentemente de, com um grupo de amigos, termo-nos deslocado propositadamente a Lisboa para assistir à peça "Jantar de Idiotas". E sentir, no final, que valeu a pena. Sabia ao que ía e as minhas expectativas foram totalmente satisfeitas…
Tenho tentado no meu humilde papel de vereador sem pelouro, discutir assuntos que, sob o meu ponto de vista interessam ao concelho e ao seu desenvolvimento. Com pouco sucesso reconheço. Ou porque é tudo difícil, ou porque não há capacidade financeira, ou porque estamos a estudar os processos… sei lá… há uma imensidão, de e nas, desculpas que me apresentam. Aos poucos têm desmobilizado algum do meu interesse em discutir MIRA. Mas eu resisto, prometo...
No fundo sou só um vereador sem pelouro e a sequência e o interesse das discussões que tenho tentado promover pode, reconheço, resumir-se a qualquer coisa do género: “ Alivia lá a alma e o ego que nós assobiamos para o lado” ou “despacha lá isso porque o que tu pensas não nos interessa lá muito”. Esta tem sido a sensibilidade que tenho registado. Pouca ou nenhuma, sejamos realistas… Mas também não é nenhum drama. Faz parte da tradição da nossa política local... Não há meio termo. Há os Génio e os outros... e eu estou estou do lados dos "outros"...
Pois… mas não é que de repente, uma entrevista da minha colega vereadora Lurdes Mesquita, que optou por um outro registo, de discurso e de conteúdo e, que por isso escolheu um local adequado - um Jornal Local, mais propriamente “ O Gandarez” - fez despertar um súbito interesse local e uma manifestação de sensibilidades feridas por parte dos membros do Executivo ? A mim, confesso, surpreendeu-me !...
Mas mais me surpreendi ainda, quando ao entrar para a sala onde iria decorrer a reunião, para espanto meu, e digo espanto porque mais uma vez a agenda de trabalhos para a reunião estava cheia de coisa nenhuma, deparei com a presença de público e de representantes da Imprensa Local (neste caso, do “Jornal das Gândaras”) !!... Quase que juro que me passou pela cabeça não ter lido a agenda correcta para a reunião e que me tinha escapado algum assunto importante... e logo eu, que tanto vinha reclamando por assuntos importantes ou no mínimo, interessantes, nas agendas das sessões de Câmara...
Estava eu nestas divagações internas e mal refeito de todas estas surpresas e já estava a assistir e a participar, pois claro, como personagem ou figurante, sei lá qual o meu papel, em toda uma encenação, preparada ou não, confesso que não sei (apesar de sentir que sim)… Sei que o papel principal era desempenhado pelo “Executivo com Pelouros”… e bem !... pelo menos o ar dos ditos vereadores era grave e de quem tem assuntos sérios e muito, muito importantes, a discutir..
Bem... eu era, talvez, o mais constrangido de todos com a situação... vai daí não tardou a chamar a tudo aquilo como “politiquice de trazer por casa e que não me prestava a tais papéis” e por isso, num assomo de verdadeiro vereador (podia dar-me para pior ...acho que também assumi um ar de gente séria e que pensa em coisas importantes), resolvi puxar novamente e uma vez mais e, desta vez com um esforço maior de clareza, assuntos de maior interesse para uma discussão. Perguntei:
1- Qual a estratégia para a AIBAP (Incubadora) e qual a Estratégia que a Câmara Municipal defende para a AIBAP?
E propus que a CM promova a elaboração de uma Estratégia de Acção para a AIBAP. Para saber o que quer se é que quer e como se propõe lá chegar. Relembrei que se trata de um investimento significativo e relevante enquadrado nas orientações de política nacional como o Plano Tecnológico e na perspectiva de desenvolvimento defendida a nível europeu, basta olhar para a Agenda de Lisboa e para o enquadramento do próximo QCA 2007-2014. E basta ver o dinamismo de concelhos vizinhos. E deixei 4 recortes de jornal com outras tantas notícias sobre: Biocant e Cantanhede; Fábrica de Pilhas e Parque Cultural em Montemor e Vacinas da Gripe e Condeixa…
2- Como está pensado o lançamento do projecto do Golfe e que condições salvaguardam o interesse público aquando da elaboração do Plano de Pormenor. Quais as bases que sustentam o preço lançado e que salvaguardas a nível de custos futuros foram tomadas por exemplo envolvendo as questões da manutenção futura das infraestruturas e dos equipamentos …. E solicitei cópia do Programa da Hasta Pública.
3- E para não ser demasiado chato, perguntei também sobre que compromissos afinal existem para o Pólo II ? O que está livre e o que pode ainda ser utilizável? Que terrenos, que empresas e que pessoas envolvem? E solicitei informação sobre compromissos e sobre a estratégia de Execução e Ocupação da Zona.
Bem… achava eu que eram bons temas (burro sou eu !... Quem manda acreditar no Pai Natal ?) ...mas já fui sem grandes ilusões... não era dia para esse tipo de questões. Pareceu-me. Mas não era hoje como não foi em nenhum dos outros dias... Pelo menos estava lá a comunicação social que certamente falará no assunto e ajudará as pessoas de Mira a pensar… Já não foi mau…
O resultado de tudo isto ou a moral da história ?
Eu continuo a pensar que todos temos o direito de expressar opinião como também, de expressar indignação… nos lugares próprios, nos tempos certos… agora fazer duma sessão de câmara o espectáculo a que assisti e pela inerência do cargo participei, é triste e estranho e só pode resultar no seguinte:
1- Um maior e mais intenso interesse pela entrevista que agora todos querem ler (e devem ler…mal certamente não faz e no mínimo, faz pensar...)
2- Uma procura que se adivinha, certamente cheia de curiosidade, pela acta da referida sessão, provavelmente assim que ela estiver disponível (deveria ser publicada depois de devidamente encadernada...digo eu, mas não tenho a certeza...)
3- Uma expectativa pelos conclusões e comentários da imprensa local sobre a reunião (quase de certeza que dará relevo ás grandes questões do desenvolvimento municipal...)
4- E pior que tudo isso, um descrédito da política municipal, que reconheçamos, nos dias de hoje, já não é muito... e leva-nos quase a aceitar como natural um certo conformismo: "Isto é assim e nada podemos fazer senão esperar por melhores tempos... e não temos nada com isto " Mas temos !... e, acreditem, não apenas de 4 em 4 anos !...
Podem acreditar também: já me passou pela cabeça, pegar na dita entrevista, na acta e nos artigos e comentários, directos ou indirectos, que certamente vão preencher algum espaço na comunicação social local e organizar e publicar um livro. Quase que aposto: Seria um Best Seller Local !... e Talvez me entusiasmasse tanto quanto o Jantar de Idiotas me entusiasmou e, certamente, muito mais que sessões de câmara como aquela, em que eu, infelizmente, também estive presente.
Pois é meus amigos, é isto a discussão política do meu concelho, num órgão de excelência. E, passe o pleonasmo, muito sensível anda a sensibilidade de quem tem, por mérito sim senhor, mas também por obrigação, de gerir o que é público e o que é de MIRA. Começo a entender… Começar a perceber… E sinto que nunca me vou habituar…muito menos, algum dia aceitar…
Nota
Os votos dão legitimidade… os votos garantem até o direito a lugar num quadro devidamente emuldurado no Salão Nobre dos Paços do Concelho e a uma ou outra referência em placas de inauguração… mas infelizmente, os votos, as fotos para a posterioridade e as placas, por si só, não significam nem traduzem, directa e obrigatoriamente, capacidade e competência… É preciso espírito aberto e "capacidade de ver mais longe"... Sensibilidade e Bom Senso...
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