in "Jornal o Gandarez"
Opinião de
João Rua
I
Há ideias que, pelo menos, merecem reflexão… E há sítios que, mais que merecem, exigem ideias. O Centro da Vila de Mira é um desses sítios. Porque Mira não tem um centro digno desse nome; falta-lhe animação e vivência urbanas, mas falta-lhe, acima de tudo, espaços de sociabilidade atractivos e agradáveis. Como Centro, Mira tem pouco significado e pouca importância. Não atrai e não motiva.
II
O Executivo Mário Maduro / PSD tentou intervir no processo de requalificação do Centro da Vila de Mira. Não era, nem hoje é, um processo e um projecto fácil, mas o sítio, o centro da Vila justificam a ambição. Que pelo menos se tente!... Eu, como técnico, estive também envolvido nessa tentativa. Havia um conjunto de elementos chave nas ideias e nas propostas que foram sendo testadas:
1- O quarteirão envolvente à Igreja Matriz, em especial todos aqueles terrenos que se encontravam e encontram ainda, vazios e expectantes. Mesmo ali, no Centro da Vila. A ideia era arrojada. Pretendia-se envolver todos os proprietários e programar um processo de urbanização que permitisse e enquadrasse a demolição da frente construída e assim abrir a possibilidade do prolongamento da Avenida 25 de Abril em direcção a Cantanhede. O cruzamento da EN-109 com a EN-234 (ligação a Cantanhede) seria resolvido com uma rotunda. O actual Jardim do Tribunal seria prolongado para uma Praça do outro lado da 109 a envolver a Igreja que ganharia destaque como edifício isolado. O pavimento da EN-109 seria diferenciado, disciplinando também ele a convivência dos diferentes modos e meios de circulação.
O processo de urbanização seria integrado e sustentado em mecanismos perequativos de distribuição de benefícios e de encargos e a imagem urbana, quer do edificado quer do espaço público teria de ser necessariamente cuidada e atractiva. Foram realizadas várias reuniões com os proprietários e a ideia parecia agradar. Faltou mais intensidade no esforço final de começar a concretizar e a negociar a execução. Mas a ideia ficou. Desenhada e estruturada.
2 - A Intervenção nos Jardim Municipal era e, na minha perspectiva, é prioritária. Aquele espaço é demasiado amplo e não tem escala para a ocupação envolvente. Por isso é um espaço pouco vivido, excepção feitas nos dias em que as festividades quase obrigam a uma maior contenção do espaço e a uma maior vivência urbana. Na altura pensou-se em instalar aí o novo edifício dos serviços técnicos municipais, conjugando-o com um programa de animação urbana, lojas, cafés e restaurantes/esplanadas. A ideia era a de criar percursos e sítios que motivassem as pessoas a percorrer e a frequentar esse espaço. O programa pode bem ser outro… Mas tem é de ser algo diferente do que existe… aquele espaço precisa de ser mais contido, precisa de mais construção. Basta olhar para o projecto inicial (salvo erro do um tal Arquitecto Teles) e ver que o que existe hoje concretizado não é a globalidade do que foi pensado…
3 - O Jardim Municipal deveria então ser ligado aos terrenos dos actuais armazéns da CM, através de uma alameda e de espaço público qualificado. É evidente que a zona da central de camionagem deveria sair dali e ser requalificada. Outra ligação importante era com a Avenida 25 de Abril. A Avenida deveria ganhar mais vida urbana. E era aqui que ganhava força a ideia de criar nos actuais terrenos afectos à Casa da Criança um pólo de animação Comercial e de Serviços e na recuperação da Escola Básica para Centro Cultural.
Todas estas intervenções poderiam ser programadas, orçamentadas e executadas envolvendo a participação de promotores privados. E era e é possível que assim seja. Não é para fazer tudo de uma vez mas cada uma das intervenções deveria e tinha um papel a desempenhar numa estrutura global da Vila de Mira. Não eram obras sustentadas no acaso. Esta era a visão que se discutia na altura. Concorde-se ou não com o conteúdo, julgo que a necessidade de pensar o Centro da Vila como um todo e de uma forma global é por todos reconhecida.
Este pode bem ser um bom exemplo, do que pode ser feito. De, como as coisas devem ser pensadas e sistematizadas. Apesar de todas as críticas, quer ao conteúdo quer ao processo, que possam ser apresentadas, julgo que se deve registar e elogiar a capacidade de pensar e de gerir, sustentado e apoiado numa lógica global e coerente. É que recusar a sustentação no acaso e na sorte, exige antes de tudo, ambição mas também muita coragem. O Executivo Maduro teve essa ambição e, apesar de todos os riscos, teve a coragem de tentar fazer diferente. O tempo e os normais ciclos políticos impediram de, pelo menos, podermos vislumbrar resultados de um projecto que se estimava vir a ter um tempo de execução mínimo de 10 anos e, assim, sobrepor-se aos caprichos desses ciclos…
1- O quarteirão envolvente à Igreja Matriz, em especial todos aqueles terrenos que se encontravam e encontram ainda, vazios e expectantes. Mesmo ali, no Centro da Vila. A ideia era arrojada. Pretendia-se envolver todos os proprietários e programar um processo de urbanização que permitisse e enquadrasse a demolição da frente construída e assim abrir a possibilidade do prolongamento da Avenida 25 de Abril em direcção a Cantanhede. O cruzamento da EN-109 com a EN-234 (ligação a Cantanhede) seria resolvido com uma rotunda. O actual Jardim do Tribunal seria prolongado para uma Praça do outro lado da 109 a envolver a Igreja que ganharia destaque como edifício isolado. O pavimento da EN-109 seria diferenciado, disciplinando também ele a convivência dos diferentes modos e meios de circulação.
O processo de urbanização seria integrado e sustentado em mecanismos perequativos de distribuição de benefícios e de encargos e a imagem urbana, quer do edificado quer do espaço público teria de ser necessariamente cuidada e atractiva. Foram realizadas várias reuniões com os proprietários e a ideia parecia agradar. Faltou mais intensidade no esforço final de começar a concretizar e a negociar a execução. Mas a ideia ficou. Desenhada e estruturada.
2 - A Intervenção nos Jardim Municipal era e, na minha perspectiva, é prioritária. Aquele espaço é demasiado amplo e não tem escala para a ocupação envolvente. Por isso é um espaço pouco vivido, excepção feitas nos dias em que as festividades quase obrigam a uma maior contenção do espaço e a uma maior vivência urbana. Na altura pensou-se em instalar aí o novo edifício dos serviços técnicos municipais, conjugando-o com um programa de animação urbana, lojas, cafés e restaurantes/esplanadas. A ideia era a de criar percursos e sítios que motivassem as pessoas a percorrer e a frequentar esse espaço. O programa pode bem ser outro… Mas tem é de ser algo diferente do que existe… aquele espaço precisa de ser mais contido, precisa de mais construção. Basta olhar para o projecto inicial (salvo erro do um tal Arquitecto Teles) e ver que o que existe hoje concretizado não é a globalidade do que foi pensado…
3 - O Jardim Municipal deveria então ser ligado aos terrenos dos actuais armazéns da CM, através de uma alameda e de espaço público qualificado. É evidente que a zona da central de camionagem deveria sair dali e ser requalificada. Outra ligação importante era com a Avenida 25 de Abril. A Avenida deveria ganhar mais vida urbana. E era aqui que ganhava força a ideia de criar nos actuais terrenos afectos à Casa da Criança um pólo de animação Comercial e de Serviços e na recuperação da Escola Básica para Centro Cultural.
Todas estas intervenções poderiam ser programadas, orçamentadas e executadas envolvendo a participação de promotores privados. E era e é possível que assim seja. Não é para fazer tudo de uma vez mas cada uma das intervenções deveria e tinha um papel a desempenhar numa estrutura global da Vila de Mira. Não eram obras sustentadas no acaso. Esta era a visão que se discutia na altura. Concorde-se ou não com o conteúdo, julgo que a necessidade de pensar o Centro da Vila como um todo e de uma forma global é por todos reconhecida.
Este pode bem ser um bom exemplo, do que pode ser feito. De, como as coisas devem ser pensadas e sistematizadas. Apesar de todas as críticas, quer ao conteúdo quer ao processo, que possam ser apresentadas, julgo que se deve registar e elogiar a capacidade de pensar e de gerir, sustentado e apoiado numa lógica global e coerente. É que recusar a sustentação no acaso e na sorte, exige antes de tudo, ambição mas também muita coragem. O Executivo Maduro teve essa ambição e, apesar de todos os riscos, teve a coragem de tentar fazer diferente. O tempo e os normais ciclos políticos impediram de, pelo menos, podermos vislumbrar resultados de um projecto que se estimava vir a ter um tempo de execução mínimo de 10 anos e, assim, sobrepor-se aos caprichos desses ciclos…
III
E porque não se faz ? E porque as coisas não mudam ou nem sequer acontecem? O problema é o mesmo de sempre… É um problema de dificuldade na transmissão de ideias e de projectos. Como foi o Executivo do Mário Maduro e do PSD que teve a ousadia de parar para pensar e de pensar estruturado, lembrando-se de iniciar um conjunto de projectos, que embora de difícil execução, mudariam por completo a qualificação do Centro da Vila, nada parece mais óbvio ao novo Executivo de João Reigota e do PS, que fazer de conta que nada existiu, existe ou sequer, foi pensado.
Por isso o Centro Cultural mal nasceu deixou de o ser… e já voltou a ser Unidade Museológica… Por isso assistimos ao licenciamento e execução de obras de reconstrução (?) de um edifício da banda construída, mesmo no enfiamento do que poderia ser no futuro o prolongamento da Avenida 25 de Abril em direcção a Cantanhede, abrindo a entrada no Centro da Vila, quando o tempo e a oportunidade de negociação com o proprietário era excelente. Por isso a ideia de um Projecto para a requalificação do Centro da Vila foi esquecido. E um dia a ser iniciado, será de raiz, pois a regra manda que nada do que os outros pensam ou estruturam tem valor ou sentido.
É isto que às vezes me aborrece e desmotiva. Não me preocupa de quem são as ideias nem de quem as executa. Importa-me que as executem. E pensar globalmente a Vila parece-me uma boa ideia. É uma boa ideia e encerra espaço para qualquer Executivo lhe dar seguimento e cunho pessoal no desenvolvimento do seu conteúdo e das suas propostas. Mas a coerência e a visão global devem estar presentes.
IV
Vem tudo isto a propósito de uma constatação. Um destes dias, talvez há já um ou dois meses atrás, percorria eu a Avenida e verifiquei que um dos tais edifícios se encontra em recuperação ou reconstrução. Questionei por ele em sessão de Câmara e, alertei para a ideia do Projecto do Centro da Vila, referindo-me em especial à inviabilização definitiva de se pensar o prolongamento da Avenida em direcção a Cantanhede, que esse licenciamento representa. Foi-me confirmado o licenciamento e que se havia Projecto ou ideia de Projecto desconheciam.
Para a história fica o exemplo. Para os mirenses fica, pelo menos a avaliação e a capacidade crítica. Basta olhar, basta observar… e imaginar…
(…) Coloque-se na Avenida e imagine que é possível encontrar uma rotunda, em vez dos semáforos e de um cruzamento com a EN-109 estranho, em vez desse cruzamento estranho, a continuidade da avenida em direcção a Cantanhede; em vez de um conjunto de terrenos vazios, uma nova organização urbana; em vez dos edifícios que vê em frente, uma praça que envolva a Igreja e prolongue o Jardim; em vez de uma estrada, um pavimento diferenciado que prologue a praça e indique que o tráfego automóvel não detém a exclusividade deste espaço…
E pense, como um simples licenciamento de uma obra de recuperação do edificado, em vez de um processo de negociação com o proprietário para aquisição do imóvel, indica que tudo é para manter como está e que pensar diferente está, definitivamente, posto fora de causa… (…)
Assim, Mira, dificilmente será diferente do que é hoje…
Para a história fica o exemplo. Para os mirenses fica, pelo menos a avaliação e a capacidade crítica. Basta olhar, basta observar… e imaginar…
(…) Coloque-se na Avenida e imagine que é possível encontrar uma rotunda, em vez dos semáforos e de um cruzamento com a EN-109 estranho, em vez desse cruzamento estranho, a continuidade da avenida em direcção a Cantanhede; em vez de um conjunto de terrenos vazios, uma nova organização urbana; em vez dos edifícios que vê em frente, uma praça que envolva a Igreja e prolongue o Jardim; em vez de uma estrada, um pavimento diferenciado que prologue a praça e indique que o tráfego automóvel não detém a exclusividade deste espaço…
E pense, como um simples licenciamento de uma obra de recuperação do edificado, em vez de um processo de negociação com o proprietário para aquisição do imóvel, indica que tudo é para manter como está e que pensar diferente está, definitivamente, posto fora de causa… (…)
Assim, Mira, dificilmente será diferente do que é hoje…
6 Comments:
At 11:01, Anónimo said…
T E K T U
E vai mais uma oportunidade perdida...
Agora resta-nos o sonho...
de um centro urbano atractivo ao comércio e lazer...
de espaços verdes e pedonais aliados a uma grande continuidade...
da valorização dos nossos recursos endógenos (edifício municipal, igreja, casa do Visconde...)...
e de termos uma sala de visita digna desse nome!
Mas talvez daqui a uns 50 anos... quem sabe...
At 22:28, Anónimo said…
O que eu gostaria de saber é se a "reconstrução" que fica mesmo às vistas da "casa branca" está devidamente licenciada. Se é uma reconstrução ou uma construção de raiz ? - pelo que està à vista do "antigo" acho que nem um adobe vai escapar, dá até a impressão que dos dois pisos existentes, vão "nascer" três. Onde anda a fiscalização de obras ? -convençam-me de que estou enganado...
At 17:48, Anónimo said…
e por onde tem andado o autor deste blog ? Pensava que já tinha perdido o gás todo. Mas ainda bemque voltou e ainda por cima com mais um texto interessante. Concordo consigo, Mira merecia muito mais até mesmo uma equipa de chefia diferente e mais capaz. E entao como é ?
o perspicaz
At 02:22, Anónimo said…
nem no vosso tempo o conseguiram maduro, quanto mais agora com a autoestrada!
At 11:43, Anónimo said…
Essa idéia tinha tanto de maravilhosa como de idiotíce, acham mesmo que seria comprotável para uma autarqui como a de Mira realizar uma obra dessas? Seria possível idemenizar todos os prorpietário convenientemente? É que fazer desenhos é muito bonitos, e agora com as novas tecnologias até nos dá para sonhar quando vemos essas idéias em imagens 3D, mas sinceramente, ACORDEM!
At 19:45, Anónimo said…
Os sistemas de perequação, o poder de criação de novas áreas de construção, são formas legitimas de a autarquia capitalizar terrenos ou compensar proprietários.
É uma questão de métedo, capacidade política,técnica e vontade.
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