Olhar para trás...
Texto de
João Rua
Existem livros que assim... São muito mais que memórias ou registos o passado...
Por mero acaso, primeiro, e curiosidade depois, reli o interessante estudo, de 1960, " Palheiros de Mira" da Raquel Soeiro de Brito.
O prefácio, de Orlando Ribeiro e datado de 24 de Dezembro de 1959, regista:
"Palheiros de Mira, no seu aspecto tradicional e genético, era uma povoação singularmente "ajustada" ao ambiente: com as casas levantadas sobre estacaria, por baixo dasquais corria a areia impelida pelos ventos mareiros (...) "
Mais adiante, Orlando Ribeiro alerta:
" Onde um geógrafo soubera ver "incomparável pitoresco" e " valor técnico" na arte de edificar em madeira, não viram os autores do plano de urbanização, e as autoridades que os apoiaram, mais do que "extrema humildade", para a qual o bota-a-baixo seria, como em tantos outros casos, o radical remédio."
Raquel Brito acentua esta evidência:
" (...) parece que os Serviços de Urbanismo deveriam olhar pela conservação da arquitectura popular e não contribuir, pelo contrário, para a sua detruição e substituição por um estilo banal e incaracterístico."
Hoje a aldeia Palheiros de Mira é a Praia de Mira. Os palheiros poucos ou raros existem. A singularidade e a identidade do lugar perdeu-se. Tudo isto foi acontecendo baseado em lógicas e formas de pensar que não perceberam nem se preocuparam em perceber o futuro, e como é evidente, não revelaram capacidades de gerir e de gerar novas oportunidades.
Ironia do destino, os modernos pensadores da gestão económica, como Peter Drucker ou Charles Handy, e os discursos e as políticas actuais do desenvolvimento, têm na inovação e na capacidade de diferenciação (capacidade de fazer e oferecer diferente) as bases que justificam e sustentam o factor competitividade, seja ela territorial ou económica.
O mais estranho é que todos sabemos tudo isto, todos conhecemos o nosso passado recente e todos temos a consciência dos recursos que ainda temos e preservamos (?)...
Mas continuamos, hoje como ontem, a agir como sempre agimos... sempre a interpretar o presente e a correr a trás das oportunidades mais óbvias e mais fáceis... Olhar o futuro e pensar diferente não faz parte da política local mirense... muito menos aprender, com humildade, com os "erros" ou as oportunidades perdido no passado...
Hoje visito a Praia de Mira, olho para a Barrinha, para a Floresta, percorro o Bairro Norte, a Marginal ou as marginais, os Prazos, e o que vejo... entristece...
Apenas consigo entender uma mensagem... A Praia de Mira, enquanto espaço de Memória e de Identidade, enquanto espaço de oportunidade para o desenvolvimentodo futuro, não é uma prioridade assumida...
João Rua
Existem livros que assim... São muito mais que memórias ou registos o passado...
Por mero acaso, primeiro, e curiosidade depois, reli o interessante estudo, de 1960, " Palheiros de Mira" da Raquel Soeiro de Brito.
O prefácio, de Orlando Ribeiro e datado de 24 de Dezembro de 1959, regista:
"Palheiros de Mira, no seu aspecto tradicional e genético, era uma povoação singularmente "ajustada" ao ambiente: com as casas levantadas sobre estacaria, por baixo dasquais corria a areia impelida pelos ventos mareiros (...) "
Mais adiante, Orlando Ribeiro alerta:
" Onde um geógrafo soubera ver "incomparável pitoresco" e " valor técnico" na arte de edificar em madeira, não viram os autores do plano de urbanização, e as autoridades que os apoiaram, mais do que "extrema humildade", para a qual o bota-a-baixo seria, como em tantos outros casos, o radical remédio."
Raquel Brito acentua esta evidência:
" (...) parece que os Serviços de Urbanismo deveriam olhar pela conservação da arquitectura popular e não contribuir, pelo contrário, para a sua detruição e substituição por um estilo banal e incaracterístico."
Hoje a aldeia Palheiros de Mira é a Praia de Mira. Os palheiros poucos ou raros existem. A singularidade e a identidade do lugar perdeu-se. Tudo isto foi acontecendo baseado em lógicas e formas de pensar que não perceberam nem se preocuparam em perceber o futuro, e como é evidente, não revelaram capacidades de gerir e de gerar novas oportunidades.
Ironia do destino, os modernos pensadores da gestão económica, como Peter Drucker ou Charles Handy, e os discursos e as políticas actuais do desenvolvimento, têm na inovação e na capacidade de diferenciação (capacidade de fazer e oferecer diferente) as bases que justificam e sustentam o factor competitividade, seja ela territorial ou económica.
O mais estranho é que todos sabemos tudo isto, todos conhecemos o nosso passado recente e todos temos a consciência dos recursos que ainda temos e preservamos (?)...
Mas continuamos, hoje como ontem, a agir como sempre agimos... sempre a interpretar o presente e a correr a trás das oportunidades mais óbvias e mais fáceis... Olhar o futuro e pensar diferente não faz parte da política local mirense... muito menos aprender, com humildade, com os "erros" ou as oportunidades perdido no passado...
Hoje visito a Praia de Mira, olho para a Barrinha, para a Floresta, percorro o Bairro Norte, a Marginal ou as marginais, os Prazos, e o que vejo... entristece...
Apenas consigo entender uma mensagem... A Praia de Mira, enquanto espaço de Memória e de Identidade, enquanto espaço de oportunidade para o desenvolvimentodo futuro, não é uma prioridade assumida...
Prioridade são coisas como a "Pescanova". Fácil, barato e imediato. Pena que não dê milhões... e mais pena ainda, que não se alcance ou sequer imagine, e muito menos se considere, o grau de comprometimento para o Futuro do nosso Concelho e em especial da Praia e Mira, um lugar que teve a sua génese, como diz Orlando Ribeiro, em "uma povoação singularmente ajustada ao ambiente"
Só pode ser assim... tal é a dimensão do abandono !...
É tempo de voltarmos a ler sobre o nosso passado e mais que ler, saber interpretar a mensagem e as oportunidades que tivemos mesmo, mesmo... à nossa frente...
Só pode ser assim... tal é a dimensão do abandono !...
É tempo de voltarmos a ler sobre o nosso passado e mais que ler, saber interpretar a mensagem e as oportunidades que tivemos mesmo, mesmo... à nossa frente...
posted by Mirapolis, editado por joao rua @ 23:03
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3 Comments:
At 10:42,
Anónimo said…
Há muito tempo, que o município devia repensar o seu desenvolvimento e reconstruir consensos em torno de novas ideias, na procura de progresso e desenvolvimento
Esta concepção indica a existência de um caminho a percorrer, ”tornar este concelho numa referência turística”. O futuro não é um produto, é antes um processo compartilhado. Era bom que o futuro nos visse como uma referência, quando se falasse em qualidade de vida e harmonia entre o progresso e a natureza.
Em justiça social, por enquanto todos são iguais perante a lei no cumprimento da cidadania. É neste contexto de cidadania que muitos de nós tem tentado convencer os nossos políticos que existem outros caminhos e modos de pensar. Mas infelizmente, nas últimas décadas não há qualquer vestígio de mudança. Falam-nos de turismo e desenvolvimento sustentável nos seus discursos mais inflamados, no entanto esquecem-se de procurar práticas adequadas a essas reflexões.
Estamos rodeados de gente incompetente que acha que já sabe tudo e nada tem a aprender.
Este é o tipo de políticos que temos no nosso mercado. O que talvez eles não saibam é que, enquanto produtos deste mercado, têm datas de validade em código de barras tatuados na pele. Quando eles menos imaginarem, serão descartados por razões óbvias e sem qualquer explicação racional.
At 11:55,
Anónimo said…
varo gladeador
Contínuo a dizer par abrir da pestana.
Até tem razão em alguns pontos mas olhe que, pior que ste xecutivo nuca vi.
Mas a incompetência é tanta que um dia vai se ver. E não deve faltar muito.
O próprio Dr. João reigota já teve equipas melhores.
Esta é trágica.
Salvava-se o Grego se não padecesse de diarreia verbal crónica.
At 14:11,
peixemola said…
ja reparam que não temos uma zona onde fazer um churrasco quer dizer gastou-se dinheiro a fazer os fogareiros e depois vão metelos a baixo mas isto cabe na cabeça de alguem pelo amor de deus apanhem tino no que fazem e não se metam a inventar com o dinheiro do municipio e tratem de empregar bem empregue não gastem o dinheiro como foi gasto nas palmeiras para a praia de mira ou no centro cultural e recreativo da praia de mira mais conhecido pelo tamanco do luis melo ou o centro medico que uma maca não entra lá...tive de la ir ver com os meus proprios lhos...ou o mecado em mira no antigo espaço da feira de mira, alias como tudo no nosso concelho é tudo feito em cima do joelho e em pais de corruptos não éra a c.m.de mira que ia falhar camara esta pioneira em tudo o que é mau...
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