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segunda-feira, maio 07, 2007

Como eu "vejo as coisas..."






1. Como vereador da oposição, que balanço faz decorrido este primeiro ano e meio?

Um ano e meio não é muito tempo para fazer balanços em Gestão Autárquica. Mas dá para perceber o sentido e a forma como se faz e se pensa a gestão e quais as principais preocupações de quem decide. E infelizmente, este Executivo nada trouxe de novo. Segue uma gestão casuísta ao sabor dos acontecimentos e dentro de uma lógica do que sempre foi a política municipal. Do tipo: “ é assim porque sempre foi assim ou, é assim, porque acho que é assim ou ainda, é assim mas os outros fizeram muito pior” . Qual a ideia de desenvolvimento que nos tem apresentado ou tem para apresentar? Pouco mais que nada…

2. Falando agora de desafios, como é ser-se oposição na Câmara Municipal de Mira?

Poderia ser entusiasmante, mas na verdade, confesso que o foi durante muito pouco tempo. Foi apenas o tempo de poder constatar e aceitar, que o Poder Local é mesmo assim e reconhecer que a nossa capacidade de intervir ou mudar qualquer coisa é de facto bastante reduzida ou quase nula. O nível de discussão e de argumentação de ideias e de propostas é pobre e pouco sustentado. O papel de vereador da oposição é quase meramente decorativo. A juntar a tudo isto cito apenas três exemplos que me despertaram um certo desencanto: A relutância do Executivo em perceber o Projecto da AIBAP e em ter demonstrado tanto receio em assumir a liderança (entregar a Presidência do Conselho de Administração ao Presidente da Câmara de Cantanhede não me parece um facto que revele confiança e crença no sucesso do projecto); O conteúdo do protocolo entre a Câmara Municipal e a Pescanova. É qualquer coisa de incompreensível. E por último, o assunto Herdade Lago Real. Para mim totalmente inesperado o comportamento do Executivo e, no mínimo, lamentável.

A verdade é que o Poder Local tem de assumir uma posição mais responsável, com mais e novas competências e capacidades. E tem de mudar de atitude.Tem claramente de saber o quer, como, quando e com quem quer. Tem de revelar capacidade de mobilizar recursos mais que preocupar-se com as tradicionais queixas de endividamento. Tem de criar oportunidades para o tecido empresarial e cívico mais do que desperdiçar sucessivos orçamentos sem saber bem onde e porquê. Tem de ser operacional, funcional e profissional na sua estrutura. Tem de estar ao serviço de todos. O nosso problema é a que a forma de fazer política e de entender o que é a gestão municipal de hoje está ao nível de à 15 ou 20 anos atrás, senão pior.

3. No campo do desenvolvimento regional, que rumo considera para um concelho como o nosso?

É complicado responder quando todos nós sabemos que essas questões do desenvolvimento regional muitas vezes pouco passam para além do discurso. Programa Operacional do Centro, o Plano Estratégico para a NUT III e PROT do Centro podem ajudar a definir uma estratégia e a centrar Mira na Região. Mas Mira tem de estar atenta e não criar demasiadas expectativas. A Ria e o Turismo Sustentável; a AIBAP e a Região Tecnológica e a qualificação urbana devem ser as preocupações centrais nos próximos anos. Mira deve construir o seu futuro neste quadro territorial competitivo procurando oferecer aquilo que os outros não podem ou não conseguem oferecer e deve procurar construir um Território agradável, atractivo e o mais social e solidário possível, com os meios e as capacidades disponíveis. Deixo aqui nota de 6 pontos, que na minha opinião traduzem as apostas prioritárias nos próximos anos:

1) É essencial discutir e definir uma Visão Global de Desenvolvimento e uma Estratégia coerente de actuação. Claro que nada disto existe e se existe, não se percebe.
2) As nossas Zonas Industriais /empresariais devem ser zonas atractivas e qualificadas ao nível da imagem e das infra-estruturas. Ao município compete criar espaços e dinamizar o tecido económico. Basta olhar para as nossas Zonas Industrias e para o Projecto da AIBAP e nada disto encontramos. Por exemplo o recente Programa iCentro promovia e incentivava a articulação Empresas Universidades-Autarquias e quantos projectos pensou e candidatou o Executivo?
3) Constrange-me e causa-me alguma tristeza ouvir, sistematicamente, falar em apostar no desenvolvimento do Turismo no nosso Concelho e olhar para a qualidade do espaço público na Praia de Mira. Ou constatar o estado de profundo abandono dos espaços/margens da Barrinha. Basta olhar a frente do Parque Campismo... Não é lógico, não é compreensível... Algo não bate certo... e não serve a desculpa da Jurisdição e de sobreposição de Competências... desculpem-me mas não serve... Há evidente falta de vontade e falta de capacidade de "ver e desejar as coisas, diferentes", até porque a Praia de Mira existe e é parte importante do nosso Concelho para além dos meses de Julho e Agosto. Por falar em Turismo imaginem o que é fazer uma hasta pública de um pretenso Projecto de Golfe que não tem projecto, que não tem uma capacidade edificatória rentável, que não tem estudo de mercado, que não tem plano de pormenor e se encontra em área classificadas como REN, onde não existe rede de esgotos nem de abastecimento de água!... É elucidativo, não é ?
4) A Qualificação Urbana da Vila, da Praia e dos pequenos centros é essencial a um município que quer atrair gente. O que é o centro da Vila? Como está a Praia de Mira?
5) A Imagem é hoje essencial a qualquer território. Mira tinha um potencial imenso com a Mirela. Praticamente desapareceu…
6) Imaginamos o espaço de debate e de confronto de ideias, do envolvimento da população e o que encontramos?

4. O “processo” Pescanova delongou alguma controvérsia inicial. Qual a sua opinião particular sobre este investimento apresentado pela multinacional espanhola?

A minha opinião sobre este projecto penso que já é de todos conhecida. Interessa mais ao país do que propriamente a Mira porque influencia positivamente as exportações, mexe com o PIB dinamiza e a macro economia. A Mira criou-se e ofereceu-se a expectativa do emprego. Sem garantias mas criou-se. É pouco. Por isso a grande mais valia da intenção de instalar um Projecto como o da Pescanova em Mira, era sem dúvida garantir uma capacidade negocial com o nosso Governo que desde a primeira hora revelou com um envolvimento e um interesse assinalável na captação deste Projecto.

E foi isso que nós vereadores do PSD sempre defendemos, sugerimos e alertámos: Analisar os prós e os contra do Projecto atendendo a três preocupações essenciais:
- Compatibilizar o Projecto Pescanova com outras opções estratégicas nomeadamente o Turismo. Mas nada foi feito e hoje ainda não percebo qual o modelo do Executivo para dinamizar o Turismo.
- Garantir a salvaguarda de possíveis Riscos, fossem ambientais ou de não cumprimento das metas de emprego gerado ou outros ainda. Mas basta ler o protocolo ou acordo entre a Câmara Municipal e a Pescanova para se perceber que não houve quaisquer preocupações a esse ou outros níveis.- Negociar e garantir uma atenção das Entidades Governamentais sobre o nosso território que tem de facto andado bastante arredia. Era uma excelente oportunidade para negociar e fazer sentir junto das Entidades governamentais a exigência de uma maior sensibilidade e até assumir compromissos para apoiar outros projectos estruturantes para o concelho. Fosse na área ambiental, fosse na área do Turismo. E aqui as questões da Barrinha, dos Viveiros e da Gestão das áreas Florestais, do Golfe ou da Zona B, ou mesmo de Projectos de Investigação cientifica ligados ou não à AIBAP poderiam encontrar apoios até hoje inalcançáveis.
Pois bem, não houve tempo, ou sequer vontade para se pensar em nada disto. Agora é esperar que as coisas corram bem mas um Projecto desta natureza representava muito mas mesmo muito mais oportunidades que apenas garantir a sua instalação em Mira. Mais uma vez, foi pena

5. Existe algum projecto que gostasse de ver concretizado pelo actual executivo?

Se quer que lhe diga, para mim o projecto mais importante para Mira é Reformar Mentalidades. Tudo o resto virá por acréscimo. Há necessidade de desbloquear e vencer uma certa inércia institucional. E isso só se consegue com novas formas de organização e de atitude. Pensar diferente e produzir mudança são as palavras chave. Tinha, e tenho ainda algumas esperanças que o Miguel ajudasse a iniciar esse processo de transição para um quadro de política municipal com Mentalidades mais abertas ao confronto de opinião e de ideias, à capacidade de dialogar e de perceber os contextos, à capacidade de envolver parceiros e de desenvolver projectos… mas também sei hoje reconhecer que com estas estruturas políticas e com esta forma de entender e fazer a política municipal, estabelecer as rupturas necessárias é tarefa quase só ao alcance de Hércules.

Não é do Golfe, da AIBAP ou da Pescanova que Mira mais precisa. É de uma mentalidade e de uma atitude diferentes!

Levará tempo às gentes de Mira para perceber que existem outras formas de exercer o Poder Local, mais atractivas e com melhores resultados. O meu único receio é que seja um tempo que se meça não em anos mas em gerações…

6. Como pensa que estará Mira no final deste mandato?

Sinceramente não faço a mínima ideia. Também é verdade que já não tenho grandes expectativas e nem sequer ponho em causa nem a vontade nem o empenho dos decisores. Mas este tipo de gestão e de organização não serve e deixa muito para o “fruto do acaso e para a sorte grande” a preparação para os desafios do futuro. Mas curiosamente ganha eleições e, provavelmente, continuará a ter imensos apoios e eventualmente até poderá voltar a ganhar mais eleições ainda. Isto é que é espantoso. O que mais me aborrece é que Mira tem tantos recursos e tantas oportunidades que confrange ver o tão pouco que soubemos fazer… quase a lembrar o ditado: “Deus dá nozes a quem não tem dentes”. Então olhar para a Praia, para a Floresta e para os Recursos naturais que temos, para a localização geográfica com fortes relações com a RIA, para a AIBAP e o que pode representar no futuro, e pouco valorizarmos e apostarmos no que nos pode diferenciar dos outros é mesmo revelar poucas capacidades e competências.

7. Fica alguma mensagem para os Mirenses?

Interessem-se mais pelo Concelho e pela Política Municipal e não é necessário integrar listas, aderir a partidos ou ter ideias brilhantes. Observem, avaliem e exijam uma gestão coerente, racional e sustentada. E não se omitam de participar expondo e discutindo ideias. Vamos aos poucos, com o tempo, procurar mudar este sistema de política municipal que já cansa e que progressiva e infelizmente, vai perdendo o sentido e desperdiça oportunidades de desenvolvimento sucessivas.