Parque Desportivo Municipal ?

Opinião de
João Milheiro


Ao ler o texto elaborado pelos vereadores do PSD - publicado neste espaço da blogosfera - relativamente ao Parque Desportivo Municipal, dou comigo a pensar (mais uma vez para não variar) que o nosso concelho de Mira é, na realidade, dado a "coisas" do arco-da-velha.

Assim, e tendo por base a "novela" do Parque Desportivo Municipal (e esta especifica "novela" apenas demonstra - na minha opinião claro está - a "riqueza" do nosso concelho de Mira neste tipo de "literatura"), muito gostaria que os Srs. vereadores do PSD (ou qualquer outro cidadão esclarecido na matéria) se pronunciassem sobre o conteúdo da Acta da Reunião Extraordinária da Câmara Municipal de Mira realizada no dia 14 de Junho de 2002.

Tal reunião, presidida pelo Dr. Mário Ribeiro Maduro (sendo o Dr. João Maria Ribeiro Reigota vereador sem pelouro no executivo ao tempo), versou sobre um único ponto. A saber: CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO CELEBRADO ENTRE O BANCO BPI, SA E O MUNICÍPIO DE MIRA, NO MONTANTE DE 4.489.200 EUROS. Ao abrigo do artigo primeiro do contrato em questão, o montante acima apontado (quatro milhões, quatrocentos e oitenta e nove mil e duzentos euros), destinava-se - também - ao financiamento, de entre outros interessantes projectos, do (tristemente fadado) Parque Desportivo Municipal (pág. 2).

Parque Desportivo Municipal esse que tinha destinada uma quantia - dos tais 4.489.200€ - de 997.600€. E tristemente fadado dada a acertada conclusão a que, entretanto, se chegou: "... que de estádio tem pouco mais que o Relvado Sintético". O artigo quinto do mesmo acordo estabelece que o prazo total do presente contrato é de 20 anos (pág. 4). Já o artigo décimo estabelece que o contrato entra em vigor na data da 1ª. utilização, a qual não poderá ultrapassar a data de 04 de Novembro de 2002 (pág. 5).

Posto isto (que, admito, só a um leigo fará confusão e - por vias disso mesmo - o pedido de esclarecimento ora formulado), resulta a seguinte - triste - conclusão: Decorridos que estão 6 (seis) anos - 3 anos de executivo Dr. Maduro + 3 anos de executivo Dr. Reigota - da entrada em vigor do contrato de empréstimo em referência e quando, ao abrigo do mesmo contrato, houve 997.600€ (duzentos milhões de escudos) especificamente acordados para o Parque Desportivo Municipal, o que nós, Mirenses, merecemos é um parque desportivo "... que de estádio (parque desportivo) tem pouco mais que o Relvado Sintético" e umas quantas torres de iluminação?

Porreiro pá !... Já temos um Relvado Sintético !...

Opinião dos Vereadores

Carla Rumor, João Rua e Luís Rocha

Foi com toda a pompa e circunstância que o nosso Executivo inaugurou no passado Sábado, dia 27 de Setembro, o Estádio Municipal, que de estádio tem pouco mais que o Relvado Sintético…

Que é importante o Concelho poder dispor do acesso a um Campo de Futebol Relvado Sintético? É, claro que é !

Que Mira merecia e merece ter um Campo Relvado ? Claro que merece !...

Mas também convém não esquecermos que se trata apenas de um Campo de Futebol Relvado e que a decisão de o instalar no sítio onde hoje está pode, por todas as razões e mais alguma, ser uma solução... pode... pode até ficar bem... e até fica… Mas nunca será uma boa solução, menos ainda, uma boa decisão.

Porque aquele espaço deveria ser pensado em conjunto com os terrenos dos Armazéns da Câmara e numa lógica de estruturar um novo Centro da Vila. Porque se querermos construir espaço urbanos mais qualificados temos de pensar em lógicas mais alargadas. Pouco ou nada foi pensado. Foi ali porque foi o mais fácil e o mais óbvio e, porque o Governo, salvo erro em finais de 2006, fez anunciar o programa "Primeiro Relvado", cujo objectivo era o de instalar relvados sintético em 80 munícipios em Portugal, desafio que a esmagadora maioria dos municípios aceitou, tal como Mira.

É bom sinal aproveitar as oportunidades e aqui Mira aproveitou… Merece parabéns.

Mas as oportunidades requerem que pelo menos se pense, previamente em lógicas mais alargadas. Saber o que se quer, como, onde e porquê, quer queiramos quer não, é importante!... E Mira não pensou… Mais que parabéns merece reflexão…

O Resultado, que é o que sempre importa no fim:

- Ganhámos um Campo de Futebol, Relvado Sintético…

- Perdemos duas oportunidades. A de promover a qualificação, comprometendo um espaço que

poderia ser importante para a qualificação da Vila e, provavelmente, ficámos sem a Zona Desportiva (... porque hoje o desporto é muito mais que um campo de futebol e exige uma forte ligação a componentes do lazer e do recreio... mais ainda se quisermos integrar esses equipamentos num processo de qualificação de apoio também às actividades turísticas...)
O curioso disto tudo é que, quer os anteriores “Executivos Reigota” quer o “Executivo Maduro” tinham pensado coisas diferentes:

- Os anteriores “Executivos Reigota”, e em sede de plano de urbanização da Vila de Mira, reservaram um espaço para uma zona desportiva mesmo por detrás do "mercado que nunca chegou a ser...". O Plano foi aprovado pela Assembleia Municipal e recentemente publicado em Diário da República. Essa Localização tinha apenas um problema. Os terrenos eram e são privados, pelo que a dificuldade de os negociar exigia um considerável esforço financeiro da autarquia...- O Executivo Maduro, reconhecendo essa dificuldade de execução, pensou a zona desportiva num quadro mais sustentado do ponto de vista da sua execução e do seu sentido estratégico. Escolheu o Pinhal da Gândara. Pensou, de facto, numa zona desportiva cuja execução seria possível realizar sem afectar a capacidade financeira da autarquia e com um programa capaz de criar um novo ponto de interesse para o município e para a sua afirmação em matéria de desenvolvimento turístico…

Ambos equacionaram bem o problema. A lógica da Zona Desportiva deve passar por muito mais que um mero campo, seja relvado ou não... Deve considerar também Pista de Atletismo, Health Club, campos de Ténis, campos e espaços informais, Circuito Manutenção, Zonas de Lazer.... e acima de tudo espaço livre !... Bons acessos e boas respostas a nível de estacionamento.... Este é o desafio que se coloca a um município !... Pensar no global, pensar integrado.

Então, porque raio as decisões continuam a ser tomada, caso a caso, ao sabor das vontades e das orientações do “acaso” e do momento?

Se há coisa que aflige neste concelho é que não se levam a sério, nem as ideias, nem as lógicas pensadas com sentido e com coerência. "É assim, porque agora toda a gente diz que pode ser porreiro ou é assim porque simplesmente, é assim..." e é pena…e mais pena ainda, quando no final, quase tudo se resume a um: “ Porreiro pá, já temos um Campo Relvado !...” e a malta fica feliz e contente…