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domingo, março 19, 2006

INÉRCIA ACTIVA


Texto de
António Jorge Menezes

(Inércia)


Não sei se por influência do blog Mirapólis ou se por um súbito mal-estar e despertar de vontade e consciência de participação cívica, o certo é que os artigos sobre os temas Estratégia Política, Associativismo e Cidadania começam a ser uma constante na Imprensa Local que de forma exemplar e isenta os vai publicando.

Observo, também, uma atitude mais crítica e transparente do cidadão comum, alicerçada num envolvimento físico e intelectual mais premente e presente nos locais para esse mesmo efeito – como as Associações e a referida Imprensa. Por oposição capto um certo afastamento desse mesmo cidadão, quiçá desiludido, das formas de organização política tradicionais – os partidos.

Talvez esteja latente um movimento/manifestação, ainda não consciente, que contrarie aquela propriedade que os corpos têm de persistirem no estado de repouso enquanto não sujeitos a uma força que altere esse mesmo estado ou que o ser humano aparenta quando perante a desilusão se queda mudo e quieto, enquanto não “enche o copo e explode”.

Quero aqui deixar claro que não sou, de forma alguma, a favor, de um qualquer Movimento Cívico enquanto meio de um conjunto de personalidades, mesmo que munidas de ideias e ideais comuns e de bom-senso, fazerem ou concorrem a fazer Política ! O risco e a atracção de se substituírem aos tradicionais meios e locais para tal exercício – partidos, órgãos autárquicos, assembleias municipais – são demasiado omnipresente.

Mesmo partilhando o entendimento do Homem, já em Aristóteles, como Animal Político, sou forçado a relembrar-me que nesse mesmo conceito está intrínseco outro, ou seja, o de “viver virtuosamente e em plena hegemonia e equilíbrio entre a ética e a Política ! E, então, sou de opinião da perfeita separação entre as “águas” – a perfeita separação entre aquele que exerce, com o direito concedido pelo povo através do voto, a Política e aquele que exerce o seu direito de Participação Política enquanto cidadão através da consciencialização da responsabilidade política e social de cada um, em particular, e de todos em geral .

Gostaria, então, de assumir que existe, para mim, um fosso, claro, entre a Ideia de Movimento Cívico e a de Conselho Consultivo; sendo que este último, forçosamente, possuirá um campus de actuação, de todo, actual e separado do primeiro quanto mais não seja pela inexistente vontade de fazer Política não se conotando nem se colando per si ao Poder Vigente mas obrigando-se e disponibilizando-se à Participação crítica e activa através do debate perante esse mesmo poder vigente.

Manifesto também, uma preocupação de separação da Política em relação ao Associativismo. Sendo esta forma de participação na Vida Pública, a forma democrática por excelência do exercício da Cidadania, não deverá, a meu ver e enquanto dirigente associativo, correr o risco de diluir a ténue linha que separa o conceito de Ser Político do de Ser Cidadão! Certamente que o Associativismo do Séc. XXI já não é aquele que foi de há 30 anos, não lhe tirando qualquer valor mas antes apoiado pelo saber de experiência feito e agora perante novos desafios.

O Associativismo já não pode estar tão dependente do espírito e “carolice” de alguns ou mesmo do “paternalismo e subsídio dependência do Estado, devendo assumir a sua importância e o seu papel, iniciado logo nas Escolas – com as Associações de Estudantes – como meio essencial e privilegiado de promoção da cultura, do desporto, da área social mesmo e inclusive substituindo a própria intervenção do Poder Político institucional.

Sem qualquer dúvida que o Associativismo deverá ser adverso ao individualismo característico na actual sociedade e à competição desenfreada, deverá ser uma forma de combate ao ostracismo, de promoção de aprendizagem cívica, de representação e promoção da Cidadania. Mas, NUNCA, nunca dissolver-se nos interesses que envolvem os valores partidários do Poder Vigente. Mesmo que o Estado, a Autarquia, crie um Gabinete Técnico Autárquico de Apoio ao Associativismo, este não será uma forma de controle, uma ancora de travagem mas sim uma forma de desenvolver uma Parceria numa ( tão ) necessária Estratégia e Visão para o Desenvolvimento Sustentado do Concelho.

Hoje, ao dirigente associativo, exige-se exactamente a isenção política e partidária no exercício das suas funções, enquanto tal, embora não o castrando de ter opiniões ou mesmo de as manifestar enquanto intuído de um verdadeiro espírito de Missão e Interesse Público!

Ao dirigente associativo exige-se abertura de espírito, solidariedade, humildade, imaginação, determinação e muita, mesmo muita atenção aos sinais. Exige-se Saber mas também Saber Fazer ou mesmo Saber Fazer Saber ou seja respeitar e aprender com o passado das suas origens de forma a ser garantia de construção do nosso futuro!

O desafio do Séc. XXI para o Associativismo será menos o de Fazer Política e mais o de Manter e Catapultar Dinâmicas, Promover Parcerias, Agir em Comum, Partilhar vontades e Sonhos, sendo o Verdadeiro espaço para o Cidadão Actor – o cidadão que consume cultura mas que com ela interage conscientemente, construindo Pontes! Como disse João Paulo II “ …hoje, trabalhar é um trabalhar com os outros e um trabalhar para os outros.”

Despertemos, todos, da Inércia que se consciente se torna activa e profundamente negativa e desempenhemos, cada um, o seu papel. Só, assim, poderemos Progredir …e Progredir é realizar UTOPIASÓscar Wilde…relembrando a globosfera atribuída ao blog Mirapolis…

quinta-feira, março 16, 2006

UM RUMO PARA O FUTURO III



"Um Rumo para o Futuro"
foi publicado no Jornal "VOZ de MIRA"


Texto de
Honório Campante




Um Desafio ao Associativismo... Um Desafio à Cidadania


Mais importante do que procurar imputar responsabilidades pela situação actual de Mira, urge, cada vez mais, unir esforços e procurar tudo fazer para melhorar o que está mal.

Agora que a cidadania está na moda, é importante realçar e assumir o fraco envolvimento de muitos Mirenses nos assuntos e actividades relacionados com a sua participação cívica, relegando-se para uma atitude de crítica, muitas vezes sem o desejável sentido construtivo, para o que a politização (ou partidarismo) em muito tem contribuído. É este traço cultural que interessa ultrapassar e mudar, no sentido de assegurar uma ampla participação, com forte sentido de missão e de interesse público, em prol de MIRA.

A dinâmica que uma visão estratégia deveria representar só existe se for o resultado de um verdadeiro debate mobilizador e participado. Mas dizer que estamos disponíveis não chega. Como também em nada contribui o discurso demagógico por parte dos responsáveis locais de que já se mantém o contacto, ainda por cima assíduo, e com troca de ideias relativas a projectos importantes. É necessário responder com cultura cívica: por um lado, saber criticar e ser criticado, respeitar as diferenças, estar atento, preparado para os desafios e disponível para mudar (desde que seja para melhor!); por outro, demonstrar capacidade de mobilização, uma reconhecida competência de intermediação, negociação e arbitragem, sustentada numa liderança séria, independente, sensata e inovadora, e de assumir compromissos.

Sinceramente, tenho dúvida que tudo isto possa ser assegurado ao nível de um concelho consultivo, embora reconheça que poderia ser um caminho possível para recuperar o nosso passivo estratégico. É que não se trata apenas de envolver nesse debate as personalidades, os doutores, os engenheiros ou os empresários: trata-se da intervenção da sociedade no seu todo. A verdade também é que, sem a participação dos cidadãos em geral, pode fazer-se um papel, mas não se faz criar uma visão estratégica que mude o estado das coisas no Concelho e que seja verdadeiramente mobilizadora da sociedade civil: dos próprios cidadãos, das associações, dos empresários, das instituições.

Provavelmente, isto é pedir muito. Mas Mira, se não se mudar muito, não muda o suficiente!

Assim, o tal movimento cívico deve, acima de tudo, estimular a participação democrática dos cidadãos no estabelecimento das políticas locais, através da sensibilização, mobilização, dinamização e criação de um ambiente propício ao envolvimento dos Mirenses, assegurando que a sua Voz se faz ouvir junto das entidades locais, regionais, nacionais ou internacionais com responsabilidades no seu desenvolvimento e no seu futuro.

Mesmo consciente que nunca estará aqui o centro de decisão / acção, que nunca nos poderemos substituir ao poder local e à iniciativa privada, estou convicto de que esta manifestação de cidadania poderá ser o nosso contributo para, numa primeira fase, nos envolvermos na criação e sustentação de uma visão estratégica, e depois, para ser um espaço de reivindicação, para exigir responsabilidades, para lançar avisos à navegação, se necessário.

É este o desafio de intervenção cívica que Mira nos merece!

UM RUMO PARA O FUTURO II



"Um Rumo para o Futuro"
foi publicado no Jornal "VOZ de MIRA"

Texto de
Honório Campante




Estratégia para que te quero…

A ausência de uma visão estratégica para Mira e uma constante reorientação casuística e em função das circunstâncias (que, em última análise, deriva da primeira) não é de hoje e tem resultado, na prática, num insuficiente enquadramento estratégico dos vários projectos que têm vindo a ser promovidos pelas diversas autarquias que comandaram os destinos do concelho, ficando a convicção de que as obras realizadas são desconexas entre si e no tempo.

As consequências? Estas não resultaram numa melhoria sustentada, actual ou perspectiva, em termos de desenvolvimento económico e social (principalmente quando comparada com o desenvolvimento que experimentaram outros concelhos vizinhos, nomeadamente Cantanhede) e não tiveram o impacto desejado em termos de discriminação positiva e diferenciação de MIRA na região centro. Pelo contrário, verificou-se uma perda de competitividade, lesiva dos interesses do concelho, no sentido da atracção de novos investimentos e do seu desenvolvimento económico e socialmente sustentado.

Alguns exemplos?

Antes de saldar o campo de golfe, não deveríamos assentar uma estratégia para o desenvolvimento turístico de Mira? Se a memória não me atraiçoa, o projecto Mira Villas não fazia já parte de uma estratégia e não foi considerado estratégico? Então como é que o Mira Oásis, cujo ponto de alavanca foi precisamente o Mira Villas, é hoje um bairro onde a anarquia arquitectónica é o traço dominante, o gosto é (pelo menos) duvidoso, e que em nada fica atrás de outros bairros do concelho que tanto se critica mas cujo desenvolvimento nunca beneficiou de um planeamento urbano com o nível de exigência e de qualidade deste, como o Bairro Norte ou a Videira?

Os alicerces do Centro Cultural, não deveriam ser uma estratégia cultural para o concelho? Uma obra de envergadura como o parque desportivo não deveria pressupor uma estratégia e uma política desportiva? Começamos, então, por argumentar com a localização, encomenda-se o projecto e depois logo se verá (e não necessariamente por esta ordem)!

Antes de avançar com a incubadora e pensar o parque empresarial não deveria haver (ou não haveria) uma estratégia de desenvolvimento industrial para Mira? E, desta forma, não ficarmos totalmente dependentes de uma estratégia que pode não ser exactamente a que mais nos interessa (a da Beira Atlântico e a de Cantanhede)? E antes de avançar com o Pólo II, mesmo depois dos erros que se cometeram com o Pólo I, já não deveria ter sido pensado como iria servir a política de desenvolvimento industrial de Mira?

Para já não falar no megalómano projecto agrícola de produção de flores que, ainda hoje, tento perceber em que é que realmente contribuiu para o desenvolvimento do Concelho, salvo as contribuições (efémeras, digo eu!) para o emprego e para a notoriedade.

Ou seja, o défice ao nível do enquadramento estratégico tem tido aspectos perniciosos, desacreditando projectos que, reconheço, poderiam ser, ou ter sido, de uma enorme mais valia para Mira. E até parece dar o benefício da dúvida ao hábito do “senhor que se segue” colocar em causa tudo o que está para trás.

Para concluir, recapitulemos as últimas autárquicas. A análise que faço dos vários programas eleitorais é que foram apresentadas algumas medidas importantes e interessantes, mas muitas que apenas lá estavam para fazer número e para garantir o discurso “politicamente correcto”. Em parte dos casos valiam, não pelo seu cariz estratégico mas pela sua pertinência na gestão corrente, permitindo responder às necessidades básicas para a melhoria da qualidade de vida dos Mirenses. Noutros, acusaram a saturação de ideias. Noutros ainda, propostas completamente desenquadradas da realidade e a resvalar para a megalomania.

Vale isto por dizer que, na minha opinião e mais uma vez, apenas pontualmente se deram uns pontapés na estratégia, e o resultado foi em grande parte uma miscelânea de intenções que podiam e deviam ser integrados numa visão estratégica mais abrangente e articulada nas diversas vertentes do desenvolvimento local e de integração regional.

Muitos dirão, primeiro a obra, depois as políticas. Sim, porque todos fazem promessas e todos querem “deixar obra”. Mas delinear uma visão estratégica pragmática, coerente e integrada para o concelho poderia ser a obra mais importante de todas.

UM RUMO PARA O FUTURO I

"Um Rumo para o Futuro"
foi publicado no Jornal "VOZ de MIRA"

Texto de
Honório Campante



Olha quem fala…


Tenho lido, com particular interesse, os textos divulgados na Voz de Mira e no Mirapolis do João Carlos Rua.

Parte deles, à primeira vista, são feitos num registo que pode sugerir uma espécie de “big brother” da gestão autárquica local, mas na realidade têm mais o objectivo de desmistificar e, principalmente, de nos dizer que o rei vai nu. Pode ser incómodo, pode ter alguma subjectividade, pode expor os protagonistas (incluindo o próprio) e até caricaturar, mas convida-nos a exercer o nosso direito de interpretação, e depois de dizer de nossa justiça, de avaliar e de criticar. É esta perspectiva que me leva a apreciar os méritos das intervenções do João Rua.

Outra parte, mesmo que aparentemente cheio de generalidades e lugares-comuns (ou talvez não tão comuns…), são rasgos de bom senso, ao ponto de ficar a ideia de que qualquer pessoa está, obviamente, de acordo, e espelham uma sensação que partilho: o défice estratégico na orientação das decisões e nas acções. Pior ainda, pelo facto de não ser de agora e por não vislumbrar capacidade para uma mudança efectiva deste tipo de actuação.

Não me custa admitir o pensamento estratégico numa forma mais empírica. Mas assim é mais facilmente confundido com o improviso estratégico e tem sido, com frequência, abusivamente utilizado para justificar as decisões tomadas e dar fundamento estratégico à posteriori da acção, orientadas sobretudo para a procura de benefícios a curto prazo, sem a preocupação de ponderar e antecipar as consequências para o futuro ou de as utilizar como alavanca de desenvolvimento.

Numa das ideias que apresenta, surge a importância do poder autárquico de dinamizar e incentivar a participação das pessoas, individuais ou colectivas, da sociedade civil. Sugere-se um conselho consultivo. Se concordo no essencial, tenho uma opinião diferente quanto à forma. É que um conselho consultivo, não desfazendo na sua mais valia, teria sempre como pano de fundo uma conotação e colagem ao poder político vigente, podendo limitar quer os resultados ao politicamente correcto, quer a abrangência da participação. Diria mais, a responsabilidade não é apenas do poder autárquico, mas de cada um de nós, em particular, e de todos, em geral.

O principal é, obviamente, a participação dos Mirenses. E, em jeito de desafio, o Paulo Gabriel colocou, em minha opinião, o enfoque no sítio certo ao referenciar o papel do associativismo (ou movimento cívico) e independência do poder político como a forma democrática por excelência para o exercício da cidadania.


Crónica de Uma Morte Anunciada…


A ideia de uma Associação Cívica não é nova. Em Julho de 2005, em plena pré-campanha das autárquicas, vários Mirenses demonstraram vontade e disponibilidade em criar um movimento associativo com o objectivo de analisar e debater os principais problemas com que MIRA se deparava (e depara!) e as perspectivas de futuro, de modo a puderem sensibilizar as entidades competentes das suas principais preocupações, bem como de sugerir linhas de orientação e ideias/projectos que permitam o desenvolvimento sustentado de Mira.

Quando participei neste encontro ad hoc vi-me rodeado de um conjunto de Mirenses, alguns que muito respeito e que têm provas dadas em prol de Mira. Anui em ser um dos elementos com a responsabilidade de dinamizar este movimento associativo, formalizando a sua criação. E, na minha opinião, este processo era inadiável.

A total independência seria assegurada se fosse garantida a sua criação antes das autárquicas, permitindo evitar qualquer colagem aos resultados eleitorais. A blindagem dos estatutos à sua constituição como força política, mesmo que independente, e a sua candidatura (ou de qualquer dos seus membros em seu nome) a cargos públicos permitia reforçar o seu cariz cívico. Pela parte que me toca, não eram definitivamente estas as motivações. Sem poder afirmar os motivos, esta ideia não se concretizou antes das eleições, e será agora difícil que se venha a concretizar, pelo menos com o enquadramento original. Concluiria, simplesmente, que prescreveu.


quarta-feira, março 15, 2006

“E DEPOIS DO ADEUS...”



Texto de
Filipe Ramos Mendonça

(antevendo as comemorações do 25 de Abril)



Para quem conhece a música, torna-se audível evocá-la, cantando variando “quem somos e o que fazemos aqui”… no nosso País.

Os consecutivos estudos sobre os padrões de pobreza têm colocado sempre Portugal no termo da lista, com taxas superiores a 50% sobre o rendimento médio Europeu. Os “dez por cento” mais ricos de Portugal absorvem mais de um quarto da riqueza produzida no País. Monopólios ou Oligopólios?

Somos o País mais pobre da CE e um dos mais pobres da Europa, com uma enorme taxa de corrupção e criminalidade.

Nos anos sessenta Portugal era, neste aspecto, bem diferente, num quadro comparativo bem dissemelhante. Evolução significa comparar, enquadrar, situar na época (o mundo e Europa)... óbviamente não podemos igualar o Estado Novo às tendências mundiais da nossa actualidade. Mas podemos fazê-lo quanto ao seu período. Em Portugal expropriaram as terras porque a “terra é de quem a trabalha”, cantou o povo em palavra de ordem… e ninguém as soube gerir.

Antes havia trabalho. Hoje ninguém lhes quer tocar. Terras e terras ao abandono, para sorte dos espanhóis e holandeses que lhes chamam de “terra prometida”. Terras que só não servem para nós.

Não se faz história apagando a memória. E durante três décadas, para se fazer a história, apagaram-se os Combatentes da memória. Esqueceram-se os mortos, os nomes proferidos, os insultos ao vento… vergonha de um povo que se auto-flagela constantemente, prostituindo-se politicamente em troca de pequenas e falsas promessas dos “senhores da política”.

Espero que não me condenem por esta posição. Sei bem que a “pseudo-dissidência” política ainda é punida, hoje de forma bem pior, com outras... representações. Por vezes, senão quase sempre, a democracia é só para alguns beneficiarem.

Outros vendem-na, a preços especiais para otários ou em promoções para pacóvios.

E nunca uma palavra tão pura, como Liberdade, serviu de tino para tanta irregularidade estupenda. Todos olham para trás e dizem: “fizemos uma enormidade”. Não fosse o 11 de Março e teria sido uma grande anormalidade…

Mas ninguém fez o essencial – trabalho. Abril está por cumprir, essa é a verdade.

E como não sou ignorante, e afinal penso pela minha cabeça, aprendi com os “maus” as coisas boas e com os “bons” as coisas más…

Lembrarei o período inicial do Estado Novo até meados de quarenta como um período de evolução, singular, talvez momento único na nossa história. Lembrarei conjuntamente o seu período final como exemplo descrente de abuso de poder e decadência...

Mas evocarei Salazar como um homem que dedicou a vida ao País, que lhe deu um rumo concertado e organizado após o desaire das primeiras repúblicas. Um homem que morreu com o que nasceu, ao contrário dos que agora “engordam” às custas do oportunismo que se instalou no país no “26 de Abril”. Uma qualidade a admirar.

Não “comerei” as ideias vendidas por igual propaganda (agora democrática), quando os livros da nossa história desvendam uma outra realidade... que não em tudo enegrecida. Chega de exultar constantemente um passado recente que afinal nem foi assim como é contado, e vamos perspectivar um futuro prático. Parece que tudo parou em 1982…

Talvez Salazar tivesse razão em não querer entregar o país ao corporativismo maçónico. Condenemos o regime, a ditadura, mas não esqueçamos a ordem e o serviço. Nem tudo eram espinhos.

Mas entre proveitos e tormentos, a balança pendeu sobre a dificuldade. Lembrarei Abril como renovação, nova esperança.

Mas “e depois de Abril”?
Confirmamos que não houve renovação. Sabemos que os dependentes do sistema são cada vez mais, e quanto maior a sua família, mais se agarram à dita “mamadeira”.

Aos que agora começam a luta, força para agarrar os destinos da nação. Nunca esquecerei Abril, mas recusarei ficar por aqui. Há mais, muito mais. Este País é muito mais do que simplesmente “Abril”…

Muito ainda há por fazer. Para que a expressão “Democracia” tenha uma certeza. Para que possamos rentabilizar a herança legada de uma liberdade para construir, para prosseguir adiante... para cumprir o “terceiro D” – de desenvolvimento.

Após três décadas, chega de utopia e nostalgia do passado. Aprender com a experiência, aplicar com determinação o exercício.

quarta-feira, março 08, 2006

GOLFE. Vai uma tacada ?





Texto de
João Rua



O sonho do Projecto de Golfe em Mira, vai pelo menos no quarto executivo !... Tem portanto, seguramente, mais de 12 anos. Lembro-me, no Executivo Rocha de Almeida, se iniciar o processo de alteração do Plano de Urbanização da Praia e Lagoa de Mira, para permitir a possibilidade do Projecto Golfe, numa área de cerca de 120 hectares contígua ao empreendimento Miravillas.

Era uma excelente localização. E, se o referido plano ainda se encontra em vigor, como penso que se encontra, retomar a ideia da antiga localização, é sem dúvida um excelente assunto para o Executivo discutir com o Governo. Mais ainda, quando o Governo incentiva e promove o Plano Estratégico Nacional do Turismo - PENT

Lembro-me, já no "Executivo João Reigota", do então Ministro do Ambiente ( O Sócrates, imaginem...) ter "impedido e inviabilizado" essa localização por força da Rede Natura. Lembro-me também, que essa mesmo Rede Natura e esse mesmo Ministro, não foram tão atentos e tão impeditivos, para o Freeport em Alcochete, por exemplo... em Rede Natura pois claro

Mira, não tem tido sorte nenhuma !...

Lembro-me ainda, desse "Executivo João Reigota" ter tido capacidade para, conjuntamente com o tal Ministro Sócrates, encontrar uma localização alternativa para o Projecto do Golfe… precisamente a actual (nos terrenos antes afectos à Viveimira), portanto do outro lado da estrada... como se de um lado da estrada houvesse muitas espécies a preservar e do outro, já não...coisas da Rede Natura e de uma ambientalismo um pouco confuso e bacoco...

Lembro-me de, no tempo desse "Executivo Reigota", não se ter tomado nenhuma medida para garantir a consolidação desse "novo compromisso". O terreno estava e está ainda hoje, sujeito ao regime da Reserva Ecológica Nacional e, o Plano Director Municpal não enquadrava, logo não permitia, tal projecto.

Mais engraçado ainda, é ver hoje o Primeiro Ministro Sócrates acompanhado pelo Ministro da Economia anunciar grandes Empreendimentos associados ao Golfe no Sul, em Rede Natura pois claro…

Lembro-me, já no "Executivo Maduro", se tentar alterar o PDM para encaixar administrativa e urbanisticamente, o tão desejado projecto de golfe. E alterou-se...

Lembro-me, desse mesmo Executivo, ter promovido uma hasta pública, com um preço base de 3.750.000€ ... que ficou deserta e lembro-me, até porque é bem recente, do actual "Executivo Reigota", preparar uma outra hasta pública... provavelmente depois de ter estudado profundamente o processo e ter alterado... o preço... baixando-o para 2.500.000€.

Nesta última etapa, já eu era vereador !... E votei, abstendo-me. E expliquei porque me absti em tal decisão. Primeiro porque defendo o projecto como sendo estratégico e mobilizador para a economia local. Depois porque o Executivo sempre disse estar a estudar profundamente todos os dossiers e este é um dos mais importantes. Logo mereceu, certamente, mais tempo e profundidade de estudo ainda. Mas a informação disponível e a sustentação da proposta apresentada pela Câmara, é pouca ou nenhuma. Por isso, sem conhecimento de causa, das causas e dos efeitos, resolvi alertar para eventuais lacunas e deixar os nossos decisores decidir. E decidiram.


Mas tenho receio. Receio que tenham decidido, não se sabe, nem sabem, lá bem o quê. Eu vou tentar explicar:

Na verdade a Câmara Municipal vai tentar vender um Projecto de Golfe que ainda precisa de um Plano de Pormenor e de um Estudo de Impacto Ambiental. Não há Estudos Prévios, não existem desenhos, nem sequer esboços... não há uma ideia e tudo o que existe (?) pode, teoricamente, ser alterado no necessário Plano de Pormenor.

Logo, hoje desconhece-se por exemplo, como e onde vou buscar a água necessária e, como e com que forma e quantidades de construção, vou erguer o desejado projecto. Também, nunca vi qualquer avaliação de quanto custam as infraestruturas e, se é fácil ou díficil executá-las... Vai daí, resolvi pesquisar alguma informação pela Net. Cheguei a algumas conclusões que logo se transformam em interrogações:

1- Um campo de golfe bem pensado e atractivo custa, nunca menos de 7.500.000 €

2- Os custos de manutenção do campo nunca serão inferiores a 400.000 € / ano

3- Que é necessário elaborar todos os estudos inclusive o de Impacte ambiental. E se o Plano de Pormenor até chegar à conclusão que é desejável em vez de 80 ter 160 fogos e porque não 200 ? O valor do empreendimento é o mesmo? Quer dizer, queremos hoje "vender a toda à força" um património que pode estar bastante desvalorizado ou que, pode ser muito, mas mesmo muito, mais rentabilizado. Estude-se primeiro. Decida-se depois... aconselha o bom senso...

4- Não conheço nenhum estudo de viabilidade económica do Projecto. Os montantes envolvidos e a importância estratégica do projecto, sugerem a oportunidade de elaboração urgente de um...

5- A manutenção e sustentabilidade de um Hotel naquela área não é muito atractiva e o Golfe por si só, não justifica os investimentos necessários.

6- A "carga construída" associada ao projecto é baixa e sem um interesse económico evidente (80 fogos com 400 m2 cada fogo ??? pois é estranho....pois é ...). Por exemplo, aqui ao lado, na Mealhada, mais concretamente na Pampilhosa, a Câmara Municipal já elaborou o Plano de Pormenor, está para elaborar o Estudo de Impacte Ambiental e já definiu as formas e as cargas... 400 fogos !... e depois vai pensar como melhor executar. Enfim, fez o trabalho de casa...

E poderia colocar muitas mais dúvidas e interrogações...

Pouco me importa quem esteve, quem está e quem estará no Executivo Municipal, seja equipa seja a cor partidária.


Mas gerir o que é público é muito exigente… de sensibilidade e de conhecimento. Ninguém nasce ensinado e ninguém pode saber de tudo... Mas quem dirige, quem gere, deve ter capacidade de saber ouvir, ter humildade de querer aprender e não ter medo de ter dúvidas... para decidir bem !...

É que fechar um olho, pousar o queixo na mão enquanto se põe um ar sério e franze o sobrolho e disparar um número…. 2.500.000 €…. não é assim tão díficil e até pode ser que se acerte… mas caramba, no próximo fim de semana também posso ganhar o Euromilhões.

O que eu não gostava que acontecesse, é que um processo mal conduzido, atraísse para o meu concelho e para a execução de um Projecto, que é de facto estruturante e estratégico, pretensos investidores do sector, que sejam mais curiosos que investidores e, que tenham mais olhos para os 80 fogos que para o resto… (o que é normal nos curiosos…)


... porque é assim, que muitas vezes, se alicerça o início da concepção de exemplares dignos da famosa espécie “Elefante Branco”, que teima em não querer desaparecer do panorama Nacional.



sábado, março 04, 2006

Acabar de vez com a CULTURA...





Texto de
João Rua




Acabar de vez com a Cultura Política Local, pois claro. Essa cultura que se enraizou e instalou e que se rege por dois princípios fundamentais:
(1) A procura da VERDADE: "os outros fizeram, sempre, pior que nós !... "
(2) A MISSÃO de encontrar “culpados... ” nos “outros” porque nós, se não somos génio, para lá caminhamos...

Tem sido esta filosofia que tem permitido a todos, falar de tudo, quase sempre sem ter conhecimento de nada. Quem conseguir seguir e cumprir estes dois princípios, com maior grau de sucesso, arrisca-se a ser Presidente de Câmara.

O exemplo mais recente e mais relevante, porque se trata do Presidente do meu concelho, é a sua entrevista ao Diário as Beiras. Quem está por mérito e por obrigação à frente da definição dos destinos do nosso concelho, conseguiu dar uma entrevista, que tem tanto de extensa quanto de mediocridade de conteúdo. Mesmo assim, revela e esclarece, pela negativa é claro. Desilude.

Eu espero muito mais deste Executivo e mesmo deste Presidente. Mas recuso-me a aceitar tanta banalidade política, quer na análise, quer no conteúdo, quer na definição dos "desafios do Futuro" . Qualquer pessoa minimamente informada e com algum sentido crítico, ao ler a referida entrevista, ficará com que pensar.

Encontra, um Título excelente, “Falta relançar Mira para que se torne concelho de futuro”.. que motiva desde logo a leitura e, aguça a curiosidade e o interesse de quem, efectivamente, gosta e se interessa pelo concelho...

Mas depressa se desencanta. Uma primeira parte, onde se refere ao trabalho do Executivo anterior, revela a aplicação clara dos princípios que acima enunciei. Revela também um desconhecimento profundo do que é essencial na política local e de como funcionam as autarquias e as relações com a Administração Central. Seja por falta de estudo, seja por falta de interesse ou seja mesmo por falta de capacidade de entendimento ou seja lá, por que razão mais for… É estranho e é incompreensível... E é até, inadmissível...

Uma segunda parte, pretende abordar perspectivas para o futuro. E não encontro um raciocínio estruturado, muito menos claro, do que pensa para o concelho. Antes pelo contrário, revela pouco ou quase nada. E quando fala de sectores ou projectos estratégicos, como são os casos do Turismo ou do Projecto da Incubadora, o discurso chega mesmo a ser confrangedor. Mas será que é assim tão difícil estruturar uma ideia, um programa ou um projecto ? Haverá alguém que saiba do que fala ou do que, pretensamente, quer falar ?


Sintetizo e concluo. Há sempre tempo para se dizer demasiadas parvoíces. Há tempo e há interesse... a malta gosta. Mas já não há tanto tempo assim, para se pensar de uma forma estruturada, estratégica e planeada... a malta cansa-se...

Pois...Eu sei. É assim, que se ganham votos e eleições. Mas também sei, que não é assim, que se ganha Respeito, Admiração e Reconhecimento.


Lá bem no fundo, tudo se resume a uma mera escolha na hierarquização do que, para cada um de nós, é o mais importante. Mas caramba, pensar não exige, nem capacidade nem grandes volumes financeiros, não exige capacidade de endividamento, fundos estruturais ou outros apoios financeiros, comunitários ou do Governo Central… Nem sequer paga impostos...

Então, estão à espera de quê?

Mira continua…

...à espera