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sexta-feira, junho 15, 2007

Pescanova - Rescaldo...


opinião de
João Rua


1.

Assisti no passado dia 12, Terça Feira, na Câmra Municipal de Mira, à apresentação das principais conclusões do processo de Avaliação de Impacte Ambiental do Projecto Pescanova...

Confesso que nunca me preocupou, nem preocupa muito, os aspectos ambientais quando desligados de todos os outros, ou quando, deles se espera o sábio veredito, seja para que decisão for... São importantes, pois são, mas quando enquadrados numa Análise Custo-Benefício mais alargada.

Quero com isto dizer, que para mim, sustentar ou não a presença da PESCANOVA apenas pela via ambiental sempre me pareceu, e continua a parecer, demasiado redutor... Não esperava muito da sessão... mas confesso também que não esperava tão pouco...


2.

O que era e é... e continuará a ser importante, é o que nunca foi considerado nem discutido... como por exemplo...

- Qual o sentido de se alienar / VENDER !... 206 hectares de terreno à beir amar plantado ?... Vamos ficar com uma parte do nosso litoral e das nossas praias privatizado ?....

- Qual a Estratégia Municipal de Desenvolvimento ?... Grandes projectos como o da PESCANOVA são mais importantes que tudo o resto ?

- "Uma vez concluída a exploração, a unidade de aquicultura deverá movimentar cerca de 24 camiões e 150 veículos ligeiros por dia". Num concelho que defende o Turismo como aposta de futuro há aqui qualquer coisa que meria alguma reflexão, não acham ?

- As Condições do protocolo entre a Autarquia e a Pescanova. O que foi apresentado e discutido em sessão de Câmara Municipal é mesmo mau...

- O Governo português contribui para este investimento da Pescanova em Mira com cerca de 40 milhões de euros !... É evidente que nem o Governo se lembrou e provavelmente ninguém lembrou ao Governo, que num concelho como Mira um apoio dessa dimensão orientado para o Turismo, Recursos Naturais, e dinâmicas Locais e uma atitude mais operativa na captação e fixação de investimentos na área do Turismo, poderia produzir efeitos multiplicadores nas economias, local e mesmo nacional, de significado muito superior a este tipo de investimento.... e evidentemente com muito menos riscos !...


Parece que não... Pescanova já não importa Rede Natura, REN ou proximidade ao cordão Dunar mas e uma estratégia de desenvolvimento turístico capaz de atrair investidores ... com construções pois claro !... Serra d´el Rei tem melhores condições ?.... Bom Sucesso também ?

3.

Governos, neste caso nacional e local, preferem sempre o óbvio e o curto prazo... e de preferência o que se adpte aos calendários e ritmos eleitoriais... É a vida !...

Pouco se procupam em definir o que se deseja e defende para o Futuro. Foi a Pescanova como poderia ter sido a Mercedes ou um outro "Onassis" qualquer... Foi o que apareceu e a malta ainda agradece... É que ter ideias e definir estratégias dá trabalho e exige capacidade de competências difícieis de reunir...

Ora se o Governo cuidasse e se preocupasse com a Barrinha; Se o município pensasse uma Estratégia coerente para o desenvolvimento (O Turismo é essencial pois é !... e não menos concluir o Parque de Negócios !... ) e se ambos concertassem tempos administrativos utéis para a concretização de Investimentos, e se ainda fosse possível que os ambientalista deixassem de lado a sua visão redutora de uma realidade que não existe, a não ser para eles mesmo (e mesmo assim desconfio que a entendam).... Então sim... seria interessante comparar resultados !....

Enquanto isso não é possível .... é evidente que tudos suspiramos pela PESCANOVA !... e pelo D. Sebastião, pois claro !...

Mas há alguém que se preocupe verdadeiramente com o futuro ?

quarta-feira, junho 13, 2007

Uma Questão de Cores...




Opinião de
João Rua



Cores Fortes...

Pelo 21º ano consecutivo, a Praia de Mira obtém a distinção de Praia Bandeira Azul. Caso único no país... Um reconhecimento à qualidade das nossas águas e das nossas praias... Um excelente contributo para a afirmação da Imagem e da atractividade do nosso Concelho...

E se a Praia mais uma vez nos enche o orgulho, que dizer então, da nossa Auto estima, quando para além da Praia de Mira, 2007 marca o ano-1 do Poço da Cruz como Praia Bandeira Azul, também ?... Excelente !...

Excelente exemplo deste Executivo, que contribuiu para a continuidade de uma história que já nos orgulha (Bandeira Azul na Praia de Mira) e teve ainda o mérito e a capacidade, de não se esquecer de uma outra Praia... cada vez mais atraente e atractiva no Concelho: A Praia do Poço da Cruz...


Cores Fracas...

Mas se no mar e nas praias temos Bandeiras de um Azul atraente, que cor nos reservam as Bandeiras em Terra ?

É que o prestígio e a imagem da Bandeira Azul da Praia de Mira não "casam bem" com a qualidade e o abandono, e até mesmo, um certo desmazelo, que tem sido dispensado ao espaço Público da Praia de Mira ... Caramba... existe Praia para além da areia e do mar... existe a Praia, lugar de gentes; lugar que habitam ou que simplesmente, visitam ou usufruem...

E é assim na Praia de Mira como é no Poço da Cruz... Praia excelente, imensos espaços livres, excelente acessibilidade, boa relação com a Praia de Mira e o Litoral Sul e com o Litoral Norte, até à Costa Nova... e tem a Ria ali mesmo ao lado !... É tempo de pensarmos o futuro e de pensar estruturar, não comprometendo o que será amanhã o "aglomerado de Praia" do Poço da Cruz !... Sim, claro que imagino um novo "aglomerado de Praia", com forte vocação Turística e de Lazer... no Poço da Cruz, para Nascente da estrada municipal... É tempo de puxar pela imaginação, e por agora de pensar, desenhar e estruturar, mas acima de tudo, garantir que o futuro possa ali um dia acontecer.


Misturando as cores...

A Bandeira Azul orgulha-nos e faz-nos bem à Auto Estima mas, (é chato mas nas coisas boas há quase sempre um "mas") mas dizia eu, responsabiliza-nos e exigi-nos respostas e acções, que dignifiquem e estejam à altura do prestígio que nos oferece...

E se do lado do Mar e da Praia, o Executivo está de parabéns e pode orgulhar-se, do lado da Terra tem mais motivos para se envergonhar... olhar para o resto do Território com mais atenção e dedicação não lhe faria mal algum...
... Mesmo que vendo e observando o que eu vejo e observo, corasse... mesmo que tivesse que ter a grandeza de reconhecer, o quão injusto tem sido o tratamento e a atenção dispensados a lugares e sítios tão... únicos... como reconhecer mesmo, a sua incapacidade óbvia de valorizar ou sequer tratar, do que de bom temos... ( é que há futuro para lá da Pescanova !... e muito, acredito eu... )

domingo, junho 03, 2007

Olhar para trás...






Texto de
João Rua



Existem livros que assim... São muito mais que memórias ou registos o passado...
Por mero acaso, primeiro, e curiosidade depois, reli o interessante estudo, de 1960, " Palheiros de Mira" da Raquel Soeiro de Brito.

O prefácio, de Orlando Ribeiro e datado de 24 de Dezembro de 1959, regista:
"Palheiros de Mira, no seu aspecto tradicional e genético, era uma povoação singularmente "ajustada" ao ambiente: com as casas levantadas sobre estacaria, por baixo dasquais corria a areia impelida pelos ventos mareiros (...) "

Mais adiante, Orlando Ribeiro alerta:
" Onde um geógrafo soubera ver "incomparável pitoresco" e " valor técnico" na arte de edificar em madeira, não viram os autores do plano de urbanização, e as autoridades que os apoiaram, mais do que "extrema humildade", para a qual o bota-a-baixo seria, como em tantos outros casos, o radical remédio."

Raquel Brito acentua esta evidência:
" (...) parece que os Serviços de Urbanismo deveriam olhar pela conservação da arquitectura popular e não contribuir, pelo contrário, para a sua detruição e substituição por um estilo banal e incaracterístico."

Hoje a aldeia Palheiros de Mira é a Praia de Mira. Os palheiros poucos ou raros existem. A singularidade e a identidade do lugar perdeu-se. Tudo isto foi acontecendo baseado em lógicas e formas de pensar que não perceberam nem se preocuparam em perceber o futuro, e como é evidente, não revelaram capacidades de gerir e de gerar novas oportunidades.

Ironia do destino, os modernos pensadores da gestão económica, como Peter Drucker ou Charles Handy, e os discursos e as políticas actuais do desenvolvimento, têm na inovação e na capacidade de diferenciação (capacidade de fazer e oferecer diferente) as bases que justificam e sustentam o factor competitividade, seja ela territorial ou económica.

O mais estranho é que todos sabemos tudo isto, todos conhecemos o nosso passado recente e todos temos a consciência dos recursos que ainda temos e preservamos (?)...

Mas continuamos, hoje como ontem, a agir como sempre agimos... sempre a interpretar o presente e a correr a trás das oportunidades mais óbvias e mais fáceis... Olhar o futuro e pensar diferente não faz parte da política local mirense... muito menos aprender, com humildade, com os "erros" ou as oportunidades perdido no passado...

Hoje visito a Praia de Mira, olho para a Barrinha, para a Floresta, percorro o Bairro Norte, a Marginal ou as marginais, os Prazos, e o que vejo... entristece...

Apenas consigo entender uma mensagem... A Praia de Mira, enquanto espaço de Memória e de Identidade, enquanto espaço de oportunidade para o desenvolvimentodo futuro, não é uma prioridade assumida...


Prioridade são coisas como a "Pescanova". Fácil, barato e imediato. Pena que não dê milhões... e mais pena ainda, que não se alcance ou sequer imagine, e muito menos se considere, o grau de comprometimento para o Futuro do nosso Concelho e em especial da Praia e Mira, um lugar que teve a sua génese, como diz Orlando Ribeiro, em "uma povoação singularmente ajustada ao ambiente"

Só pode ser assim... tal é a dimensão do abandono !...

É tempo de voltarmos a ler sobre o nosso passado e mais que ler, saber interpretar a mensagem e as oportunidades que tivemos mesmo, mesmo... à nossa frente...