INÉRCIA ACTIVA
António Jorge Menezes
(Inércia)
Observo, também, uma atitude mais crítica e transparente do cidadão comum, alicerçada num envolvimento físico e intelectual mais premente e presente nos locais para esse mesmo efeito – como as Associações e a referida Imprensa. Por oposição capto um certo afastamento desse mesmo cidadão, quiçá desiludido, das formas de organização política tradicionais – os partidos.
Talvez esteja latente um movimento/manifestação, ainda não consciente, que contrarie aquela propriedade que os corpos têm de persistirem no estado de repouso enquanto não sujeitos a uma força que altere esse mesmo estado ou que o ser humano aparenta quando perante a desilusão se queda mudo e quieto, enquanto não “enche o copo e explode”.
Quero aqui deixar claro que não sou, de forma alguma, a favor, de um qualquer Movimento Cívico enquanto meio de um conjunto de personalidades, mesmo que munidas de ideias e ideais comuns e de bom-senso, fazerem ou concorrem a fazer Política ! O risco e a atracção de se substituírem aos tradicionais meios e locais para tal exercício – partidos, órgãos autárquicos, assembleias municipais – são demasiado omnipresente.
Mesmo partilhando o entendimento do Homem, já em Aristóteles, como Animal Político, sou forçado a relembrar-me que nesse mesmo conceito está intrínseco outro, ou seja, o de “viver virtuosamente e em plena hegemonia e equilíbrio entre a ética e a Política ! E, então, sou de opinião da perfeita separação entre as “águas” – a perfeita separação entre aquele que exerce, com o direito concedido pelo povo através do voto, a Política e aquele que exerce o seu direito de Participação Política enquanto cidadão através da consciencialização da responsabilidade política e social de cada um, em particular, e de todos em geral .
Gostaria, então, de assumir que existe, para mim, um fosso, claro, entre a Ideia de Movimento Cívico e a de Conselho Consultivo; sendo que este último, forçosamente, possuirá um campus de actuação, de todo, actual e separado do primeiro quanto mais não seja pela inexistente vontade de fazer Política não se conotando nem se colando per si ao Poder Vigente mas obrigando-se e disponibilizando-se à Participação crítica e activa através do debate perante esse mesmo poder vigente.
Manifesto também, uma preocupação de separação da Política em relação ao Associativismo. Sendo esta forma de participação na Vida Pública, a forma democrática por excelência do exercício da Cidadania, não deverá, a meu ver e enquanto dirigente associativo, correr o risco de diluir a ténue linha que separa o conceito de Ser Político do de Ser Cidadão! Certamente que o Associativismo do Séc. XXI já não é aquele que foi de há 30 anos, não lhe tirando qualquer valor mas antes apoiado pelo saber de experiência feito e agora perante novos desafios.
O Associativismo já não pode estar tão dependente do espírito e “carolice” de alguns ou mesmo do “paternalismo e subsídio dependência do Estado, devendo assumir a sua importância e o seu papel, iniciado logo nas Escolas – com as Associações de Estudantes – como meio essencial e privilegiado de promoção da cultura, do desporto, da área social mesmo e inclusive substituindo a própria intervenção do Poder Político institucional.
Sem qualquer dúvida que o Associativismo deverá ser adverso ao individualismo característico na actual sociedade e à competição desenfreada, deverá ser uma forma de combate ao ostracismo, de promoção de aprendizagem cívica, de representação e promoção da Cidadania. Mas, NUNCA, nunca dissolver-se nos interesses que envolvem os valores partidários do Poder Vigente. Mesmo que o Estado, a Autarquia, crie um Gabinete Técnico Autárquico de Apoio ao Associativismo, este não será uma forma de controle, uma ancora de travagem mas sim uma forma de desenvolver uma Parceria numa ( tão ) necessária Estratégia e Visão para o Desenvolvimento Sustentado do Concelho.
Hoje, ao dirigente associativo, exige-se exactamente a isenção política e partidária no exercício das suas funções, enquanto tal, embora não o castrando de ter opiniões ou mesmo de as manifestar enquanto intuído de um verdadeiro espírito de Missão e Interesse Público!
Ao dirigente associativo exige-se abertura de espírito, solidariedade, humildade, imaginação, determinação e muita, mesmo muita atenção aos sinais. Exige-se Saber mas também Saber Fazer ou mesmo Saber Fazer Saber ou seja respeitar e aprender com o passado das suas origens de forma a ser garantia de construção do nosso futuro!
O desafio do Séc. XXI para o Associativismo será menos o de Fazer Política e mais o de Manter e Catapultar Dinâmicas, Promover Parcerias, Agir em Comum, Partilhar vontades e Sonhos, sendo o Verdadeiro espaço para o Cidadão Actor – o cidadão que consume cultura mas que com ela interage conscientemente, construindo Pontes! Como disse João Paulo II “ …hoje, trabalhar é um trabalhar com os outros e um trabalhar para os outros.”
Despertemos, todos, da Inércia que se consciente se torna activa e profundamente negativa e desempenhemos, cada um, o seu papel. Só, assim, poderemos Progredir …e Progredir é realizar UTOPIAS – Óscar Wilde…relembrando a globosfera atribuída ao blog Mirapolis…